Meditação: observação, aceitação da realidade, escolha da melhor atitude.

A palavra meditação vem sendo amplamente utilizada, mas ainda assim, é constantemente acompanhada de incertezas e dúvidas. Assim, gostaria de remontar às suas origens etimológicas, pois sua utilização nos remete a épocas e culturas bem distantes de nossa atual realidade, talvez sendo essa uma das razões de tanta confusão.

Ao examinarmos suas origens temos: em Sânscrito “Dhyāna”, se refere a um dos tipos ou aspectos de contemplação e “bhavana” que significa “cultivar, desenvolver”. Sendo esses conceitos-chave no Hinduísmo e no Budismo. Esses termos encontram equivalência em “jhāna”, do Pāli; “chán”, do Chinês; “seon”, do Coreano; “zen”, do Japonês.

Além desses, há o termo “gom” do Tibetano, que significa “familiarizar-se com as qualidades e as perspectivas novas associadas a um novo modo de ser”.

Da origem latina, temos meditatĭo,ōnis, ‘ação de meditar, de refletir; preparação’. Ato, hábito ou efeito de meditar, de pensar com grande concentração de espírito.

Pelo aspecto religioso, um exercício espiritual que prepara para a contemplação. Prática de concentração mental que se propõe a levar, através de uma sucessão de estados, à liberação espiritual dos laços do mundo material.

A tradução do verbo grego medomai provém da mesma raiz indo-europeia *med- vinculada a muitos e variados sentidos: “curar”, “medir”, “pensar”, “governar”, “considerar”…

Portanto, a palavra meditação pode ser interpretada como um termo genérico, pois possui diversos significados. Para as correntes filosóficas e religiosas é uma prática para elevação espiritual e ao chegar ao ocidente foi, muitas vezes, mal entendida, levando a interpretações como “esvaziamento de mente ou relaxamento”.

Dessa forma, a partir dos conceitos: contemplação, cultivar, desenvolver, familiarizar-se com novas perspectivas, pensar com grande concentração de espírito, pode-se dizer que é uma técnica aplicada para treinar a mente.

Uma vez que treinamos nosso corpo, podemos também, treinar nossa mente.

Ao avaliarmos o treinamento corporal, sabemos que essa disciplina tem como objetivo levar a uma melhor saúde física. É uma prática que promove diversos benefícios, como: controle de peso, revigoramento do sistema cardiorrespiratório, aumento da resistência muscular, alivio do estresse e da ansiedade, combate à insônia, entre outros.

Da mesma forma ocorre com nossa mente. Ela também pode ser treinada para obtenção de benefícios, tais como: melhorar as habilidades cognitivas, a memória e a atenção, aumentar o foco e a concentração, desenvolver a criatividade, bem como o proporcionar equilíbrio emocional.

Esse treino consiste em, entre outras técnicas, desenvolver a habilidade da contemplação, ou da observação dos pensamentos, treinando nossa capacidade de permanecer no presente e perceber os padrões para, posteriormente, nos permitir escolhas mais conscientes.

Quando não temos conhecimento de nossos padrões mentais, muitas vezes, nossa mente se assemelha a um carro desgovernado, em alta velocidade, pois possui um fluxo de pensamentos intenso, desordenado, algumas vezes, caótico.

Uma vez que nosso sistema nervoso não distingue um perigo real de um perigo imaginário, quando geramos e acreditamos em um pensamento de dor, medo ou angústia, nosso corpo irá reagir para se defender dessa situação, mobilizando o organismo para uma descarga energética de enfrentamento.

Por exemplo, uma pessoa ansiosa, geralmente, percebe acontecimentos corriqueiros da vida como conflitos, tendo uma tendência a ver muitas situações pelo prisma da crise.

Gerando estados emocionais de dúvidas e incertezas a respeito de si mesmo, do mundo ou dos outros, a respeito do passado ou do futuro, o que pode levar a emoções de medo, raiva, tristeza, mágoa, ciúme, queixas, insatisfações, desespero, nervosismo, solidão, muitas vezes sem se dar conta dos gatilhos iniciais dessas situações.

Lembrando que não há nada de errado em sentir tais emoções, os problemas surgem quando não as identificamos e não sabemos muito bem como lidar com elas.

Da mesma forma que não podemos frear um veículo em alta velocidade bruscamente, também não conseguimos conter essa espiral de pensamentos desordenados de nossa mente de forma abrupta.

Uma das soluções é através da prática da meditação, pois ela nos auxilia no desenvolvimento de nossa capacidade de concentração e contemplação, a partir da observação, sem julgamento, dos pensamentos, apenas como um espectador, desenvolvendo a atenção e a identificação dos padrões em nossa mente.

Ao inserir a prática meditativa na rotina, desenvolvemos a habilidade de lidar com o estresse de modo a romper a espiral de luta ou fuga.

A prática amplia nossa visão, possibilita novas interpretações e soluções, pois evidencia os padrões de pensamentos corriqueiros e isso nos permite escolhas mais conscientes.

Portanto, meditar não é parar de pensar, não é esvaziar a mente. É uma técnica que nos leva à identificação do fluxo dos pensamentos e ao desenvolvimento de uma clareza mental para escolhas mais conscientes, no aqui e agora.