O termo multitarefa surgiu na área da Informática para nomear um sistema operacional que permite a execução de mais de um programa simultaneamente, concorrendo assim quanto à utilização da capacidade de processamento do hardware. Assim, dentro da programação é necessário definir e gerenciar a prioridade de cada programa quanto ao uso de recursos existentes no hardware.

E então, o termo multitarefa logo foi incorporado para qualificar as pessoas que têm a capacidade de realizar várias tarefas “ao mesmo tempo”, porém “sem perder a qualidade durante o processo”.

Atualmente, ser multitarefa é uma das habilidades mais requeridas e valorizadas, haja vista a quantidade infinita de atividades que precisamos realizar.

Possuir a capacidade de ser Multitarefa parece ser a “cereja do bolo” de qualquer profissional.

Assim, muitas pessoas dizem conseguir manter a qualidade de sua atenção mesmo compartilhando atividades tais como ler e-mails ou mensagens no WhatsApp e ainda conversar com as pessoas, sem perder informações importantes…

Na verdade, para entender um pouco melhor essa capacidade, precisamos compreender um pouco mais o funcionamento de nosso cérebro.

Nossa herança genética faz com que nosso cérebro esteja sempre em alerta, preocupado com os perigos que podem pôr em risco a nossa sobrevivência. Evoluímos como espécie e mais ainda tecnologicamente, mas nosso cérebro ainda possui áreas que respondem a estímulos primitivos, assim como os nossos ancestrais.

Nosso sistema nervoso simpático é o responsável por nossa central de alerta. Portanto, a natureza de nosso cérebro é a distração, pois sua habilidade natural é saltar de um “risco” a outro para nos manter vivos.

Pesquisas comprovam que nosso cérebro é afetado todas as vezes que trocarmos de atividade, gerando maior gasto energético.

Ele não se concentra em mais de uma coisa por vez, o que ele faz é uma rápida alternância de foco, dando-nos a impressão que nossa atenção está distribuída em várias atividades simultaneamente. Porém, a cada troca de objeto, nosso cérebro leva um tempo para se reconectar à nova atividade, consumindo mais energia.

De acordo com a psicóloga Desirée Cassado “O foco depende de uma habilidade cognitiva muito difícil de se conseguir, que se perde facilmente, porque nosso sistema neurológico não está preparado para estar sob controle de algo por muito tempo. Ele busca a sobrevivência, e vai ficar buscando o tempo inteiro por possibilidades de riscos”.

Portanto, percebemos que ser multitarefa não é uma capacidade nata que o nosso cérebro possui. Ele está mais para distraído do que para focado, pois quando nos afastamos de uma tarefa, nosso cérebro vai precisar recalibrar sua atenção para retomar o assunto e isso abre espaço para que ele busque outras atividades, ou seja, mais distrações.

Mas, ainda há salvação para os que se dizem multitarefas… é possível fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo quando essa habilidade é um hábito ou uma atividade já conhecida e automatizada por nosso cérebro, por exemplo, dirigir, lavar louça, tomar banho, andar de bicicleta…

Mas para as atividades que concorrem com o uso de nosso córtex pré-frontal, que é responsável pelos processos cognitivos, fica mais difícil manter a realização sem prejuízos, pois exige mais foco e concentração, consequentemente, mais gasto energético. Que pode significar um cansaço maior ao final do dia e, isso, ao longo de semanas e meses, pode gerar sobrecarga, exaustão, estresse e Bournout.

De acordo com a pesquisadora Shalena Srna, da Escola de Negócios Stephen M. Ross da Universidade de Michigan: “A multitarefa geralmente é uma questão de percepção ou pode até ser considerada uma ilusão”.

CULTIVAR A ATENÇÃO PLENA – FOCO

Então, o que é importante ter em mente com relação a ser multitarefa?

O mais importante, na verdade, é se desvencilhar do mito da multitarefa e aprender a desenvolver o foco, isto é, aprender a cultivar a atenção plena, que é uma habilidade comportamental que pode ser adquirida e treinada.

Deixo aqui algumas sugestões para você desenvolver e treinar o FOCO:

  1. Identifique quais são seus fatores de risco, isto é, quem são seus maiores geradores de distração (celular, as redes sociais, o email, as interrupções de pessoas, ligações telefônicas, a atividade desmotivante, o ambiente, a fome, a sede…)
  2. Cada vez que for iniciar uma nova atividade, faça um exercício de ancoramento no agora, certifique-se de que está presente, sinta o seu corpo, faça algumas respirações conscientes. Inspirando e expirando pelo nariz de uma forma profunda e lenta, de preferência, sentindo o movimento do abdome.
  3. Certifique-se que o ambiente escolhido está adequado à atividade e que possui luminosidade boa, está livre de ruídos e possui conforto e ergonomia apropriados.
  4. Determine um tempo limite para cada uma de suas atividades e estabeleça intervalos de descanso, por exemplo, a cada 40 minutos de foco, descanse de 5 a 10 minutos. Isso melhorará sua concentração, consequentemente, sua produtividade.
  5. Meditação. Aprenda uma técnica de meditação, participe de grupos ou faça sessões individuais, de preferência com um instrutor, pois assim você poderá tirar dúvidas e tratar de suas dificuldades de uma forma personalizada. Lembre-se, você é um ser único e deve ser tratado como tal.

 

“O trabalhador realmente eficiente não apinha seu dia com trabalho, mas divaga por suas tarefas com uma grande aura de facilidade e lazer”, diz Henry David Thoreau

 

Eu sei, parece um contrassenso pedir que você divague, mas lembre-se, entulhar a sua agenda também não é o mais adequado, assim, escolha o equilíbrio. Busque alternar suas atividades. Escolha com consciência suas prioridades. Sugiro a você assistir à live que fizemos no Leitura e Meditação a respeito do livro Faça Tempo, 4 passos para definir suas prioridades e não adiar mais nada de Jake Knapp e John Zeratsky, lá falamos sobre como estabelecer prioridades e manter o foco na sua atividade Destaque do Dia.